sábado, 23 de abril de 2011

Eu disse não mas eu queria dizer sim


Apenas quem consegue te fazer sentir viva, tem o poder de te fazer sentir morta, ponto. Só quem te faz arrepiar todos os milímetros do corpo, fazendo com que o sangue passe apertado pelas veias, causando um leve rubor no rosto, é capaz de estragar o mundo quando parte. Só quem tem o poder de transformar o ar poluído em ar fresco, tem também o poder de arrasar sua noite.

Meu Deus, cadê as força de negar um desejo se enquanto ele não for saciado continuará existindo? Os desejos nascem, e vão direto ocupar lugares interessantes do nosso corpo. Desejos não morrem antes de um formigamento, em uma manhã suja de arrependimentos.

Me diz, você pensa que é forte agindo feito moralista? Fingindo que é a rainha da paciência, respirando fundo, contando até mil, saindo à francesa da festa, rezando na ciranda espírita, desviando seu foco. Mas ele está lá, sabia? Na noitada com os amigos, te observando de esguelha. E lá ele continuará, como um fantasma, mesmo depois que o táxi o levou, bêbado, para casa. Os resquícios dele está no vazio que ele deixou. Na droga da dúvida do como poderia ter sido, na esperança que é a última que morre, do próximo encontro que não saí da minha cabeça. Ele está na minha consciência em uma cobrança de um querer enorme ainda latente.

Esse é o maior problema dos desejos, eles não aceitam não como resposta. Você só coloca um ponto final nele se for até o fim. Para matar um desejo é preciso viver, nem que depois você morra junto com ele..

Indo embora para casa, segurei o peito, que parecia solto; abafei uma lágrima. Como eu queria agora estar com ele. Por aqueles segundos de esquecimento, mais meses de lembrança. Só sei dizer que ontem o desejo me acompanhou até em casa. Muito, muito, muito mais forte que minha nobreza em ter dito não. O desejo padece no seu coração e na sua mente, no teu cheiro que você carrega junto com seu passado. Ele está em cada batimento cardíaco, em cada torção contraída do seu estômago, em cada momento descontraído de seus hormônios. Você está aqui. Em cada linha que eu escrevo tentando ser boa redatora, em cada momento correto que eu me agarro para não deixar você errar, em cada provocação estratégica para você nunca desistir de insistir em errar. Você está aonde eu quero chegar, em tudo que eu quero negar, muito presente. Não quero uma só uma escapadinha, não quero uma vida ao seu lado. Não quero nunca mais te ver. Queria ter dez minutos com você, o bastante para não mudar minha vida em nada. Quero outra vida. Não estou nem aí pra você. Só penso em você.

Quis demais que você fosse embora, quis demais que você ficasse pra sempre, quis não pensar, me agarrei numa lógica fria que berrou no meu ouvido que toda ação tem sua reação. Toda traidora tem seu dia de enganada. Toda vontade negada tem seu dia de câncer. Todo silêncio tem seu dia de grito desesperado. Entenda cada som, de cada letra, de cada palavra, de cada frase, de cada sentença, de cada idéia carregada de desejo, como um grito de cada parte do meu corpo que ficou lacônica quando sua presença física abandonou a festa.

O desejo era tanto, que travei. Tive medo que você tirasse meus grampos e minha maquiagem, a roupa que vesti para seduzí-lo. Tive medo da hora de ir embora, a maior solidão de uma mulher é não poder dormir nos abraços do seu amado, pois ele é sua apenas por três horas. Tive medo da sua pressa, que sempre me ofende tanto. Tive medo da sua fidelidade. Tive medo de ser só desejo, porque para mim sempre foi mais. Prefiro ser perseguida pelo meu desejo, que não tem dia para acabar, do que ser abandonada mais uma vez pelo seu, que dura no máximo algumas horas.

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