quinta-feira, 14 de abril de 2011

Homem briefing

Ontem o Ribeiro, meu terapeuta falou pra mim: “Grazi, precisa formatar esse homem que você quer. Para assim, deixar se perder pelo meio do caminho, com gente que não tem nada a ver com você.”
Ao chegar em casa fiz o que os colegas publicitários chamam de briefing. Em um papel, que normalmente rabisco meus texto, coloquei todos os formatos, intelectos, medidas, cores, palavras, sentimentos e modos que esse "cara" deve ter:
25+, caminhando para ser bem-sucedido - mas porque ralou e não porque nasceu rico- moreno, não muito alto, baixinho nem pensar, fortinho - não malhado - sensível, mas que saiba carregar peso e resolver problemas burocráticos. Engraçado - mas que não conte piadas com pum. Ele tem que amar a família, mas é bom que queira constituir uma. Que ame as crianças, mas que nem por isso haja como uma. Ame os cachorros mas que nem por isso queira ser um. Que ame a mãe dele, mas nem por isso queira que eu seja a mãe dele. Que ame os amigos, mas nem por isso dependa deles para ter personalidade.
Que use um anti-sinais mas às vezes fique com preguiça do banho (homem sempre limpo e cremoso também não dá), que tenha uma quantidade média de pêlos, despelado não dá, tampouco macaco. Que tenha uma barriguinha, só para eu não ficar neurótica com a minha bunda mole, e quando ele estiver frente para um espelho, olhe sua careca e jamais os músculos. Que respire de um jeito aceitável quando dorme depois de beber e que jamais, jamais, jamais: vomite.
Vovó sempre diz que é pra gente tomar cuidado com o que deseja, pois, assim que terminei o briefing de homem perfeito, em três dias ele apareceu. Trocamos alguns mensagens, tweets e telefonemas. A compatibilidade do briefing foi tanta, que no nosso primeiro encontro eu pensei seriamente em ir vestida de noiva.
O homem do briefing escolheu pra gente o restaurante certo, me buscou na hora certa, com o perfume certo, ouvindo o cd certo e disse todas as palavras certas. Digno de uma cultura invejável, além de me fezer sentir constrangida com minha listinha de músicas, filmes e livros, medíocres.

Quando chegamos no carroele abriu a porta para mim, me deixou comandar o ar-condicionado mas não me deixou mexer nos CDS, afinal, homem precisa ser só meio comandado: totalmente comandado é coisa de fraco e nada comandado é coisa de grosseiro. Ele é mesmo perfeito!

Ele me deixou na portaria do prédio, desceu do carro, me acompanhou até o elevador. Me deu um beijinho carinhoso no rosto. Não tentou me agarrar, afinal: mistério para o próximo encontro é perfeito.
No dia seguinte, logo pela manhã, me mandou flores.
Sim, finalmente eu havia encontrado o homem briefing, ele existia e podia ser meu.
Só continuo solteira porque, infelizmente, nunca mais quis falar com ele. Puta que pariu, cara chato!

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