segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A truculência acadêmia






O sonho de ingressar na universidade tem se tornado pesadelo na vida de muitos jovens no inicio do semestre letivo. A palavra que define esse pavor dos estudantes no meio das universidades chama-se: trote. O que deveria ser um rito de passagem prazeroso e divertido ambientando os novos estudantes aos veteranos é marcado por agressividade e humilhação. O trote universitário está ficando pior a cada ano, com agressões que ferem a integridade física e moral do ser humano. Muitos encaram como uma brincadeira, mas acredito que essas brincadeiras são de muito mal gosto e estão passando dos limites. É revoltante a barbárie cometida debaixo do nariz das instituições de ensino superior. A faculdade deveria punir. Os alunos que se sentirem coagidos denunciarem.
Os veteranos deveriam receber calorosamente os novos alunos, desgastados pelas provas do vestibular e ao mesmo tempo vitoriosos por terem sido aprovados, mas não é isso que acontece. Esses alunos agem com certa truculência, que se mistura com a ansiedade de descontar em alguém suas frustrações acadêmicas, seja por que não se deu bem em uma matéria ou não goste de determinado professor, eles querem fazer sofrer esses novos alunos, para aliviar a sensação de humilhação que eles mesmos devem ter passado dentro da sala de aula.
A escala da gravidade da brincadeira de interação dos grupos vai de tomar um banho de lama, a andarem seminus. Existem casos dos quais alguns alunos foram obrigados a ingerir bebida alcoólica forçadamente em altas doses chegando a ficar em coma alcoólico, como no caso de Bruno Ferreira de 21 anos, que foi um dos piores casos já registrados em 2009 junto, juntamente com a caloura grávida Priscilla Muniz de 18 anos, a garota teve partes do corpo queimado com lesões de queimaduras de segundo graus.
Em Juiz de Fora, a UFJF proíbe o trote dentro da universidade, pois não quer ser responsabilizada caso aconteça alguma fatalidade. Isso significa que a Instituição sabe que seus alunos “pegam pesado”, como no trote do dia 2 de março os alunos que deviam descer descalços até o centro (a pé) para pedir dinheiro deveriam pagar R$ 5 para comprar o “vale-calçado”. As meninas que quisessem prender os cabelos, com o prendedor, também deveriam pagar. Os alunos que desceram descalços até o centro devem ter queimado seus pés no asfalto que absorveu o calor que fazia de 36,5ºC. A missão dos maltrapilhos sujos de tinta, pó de café, ovo e farinha de trigo, era arrecadar uma quantia de R$ 15 podendo chegar a R$ 100, para financiar os churrasco e as chopadas de seus respectivos cursos. Eu me recuso a dar dinheiro, uma vez que não estudo em faculdade federal e meus pais pagam impostos e financiam essa palhaçada toda e eu ainda tenho que pagar para estudar? De jeito nenhum.
Esses foram as brincadeiras universitárias que chocaram 2009, mas não se pode esquecer dos anos anteriores, aos quais os estudantes promissores em suas carreiras foram interrompidos por essa barbárie. Como em março de 1980 Carlos Alberto Souza calouro da Universidade de Mogi das Cruzes (SP), morreu devido a socos na cabeça. Ele reagiu quando os veteranos tentavam cortar seu cabelo à força. Dez anos depois em 1990 o calouro de direito George Araguaia Parreira Mattos teve uma parada cardíaca e morreu ao tentar fugir de trote em Rio verde (Goiás). Três anos mais tarde em março de 1993 Ugo Luís Boattini abandonou a vaga no curso de engenharia que conquistou na Universidade Estadual de São Paulo, após ter um peso preso aos órgãos genitais. E o caso que é lembrado até hoje pelos brasileiros em 1999 o calouro Edison Hsueh foi encontrado morto na piscina da faculdade de Medicina da USP.
Será que todos esses casos ainda não mostraram que está na hora de proibir essa palhaçada? Será que não bastou a morte do calouro de medicina a dez ano atrás? Mataram um inocente na piscina da própria faculdade, futuros médicos matando, mas eles não são treinados para salvarem vidas? Olha só que ironia. Gente que se diz civilizados, estudiosos matando, sacrificando, humilhando queimando mulher grávida em troca de que? Diversão. Os valores estão invertidos e eu tenho vergonha dessa sociedade.

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